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quinta-feira, 27 de fevereiro de 2020

Zé do Caixão: O “monstro” mais autêntico do mundo

Quando veio ao Brasil, o cineasta Gaspar Noé apressou-se em dizer que queria conhecer uma pessoa. Em um festival de cinema nos Estados Unidos, Lloyd Kaufman, fundador da Troma Entertainment, disparou: ele é Deus. Rogério Sganzerla, um dos mais criativos e importantes cineastas brasileiros, reconheceu o seu talento e o lançou como paradigma do movimento artístico conhecido como Cinema Marginal. Nos Estados Unidos e Europa, proliferam-se dissertações e teses sobre a sua obra. Os comentários acima esboçam apenas um traço da incomensurável importância do cinema de José Mojica Marins, que faleceu no dia dezenove de fevereiro.

Sem educação formal em cinema e sem dinheiro, Mojica fez filmes em São Paulo a partir da década de 1960, fundou um clube, uma revista em quadrinhos, foi ator e diretor de seus filmes. Sobre a sua obra prima À Meia-Noite Levarei sua Alma (1964), o cineasta Jairo Ferreira (1986) fez o seguinte comentário: “De boa fé, troco vinte anos de cinema paulista pelos vinte segundos em que Zé do Caixão, fugindo na floresta de papelão, perde a cartola, abre os braços, a capa e o peito: a quem pertence a terra? A Deus? Ao demônio? Ou aos espíritos desencarnados? “. Mojica fazia testes de elenco em uma casa abandonada e neste mesmo lugar, sombrio pela sua natureza, gravou um dos seus filmes.


José Mojica Marins e Christopher Lee (1974), em um jantar durante o Festival L'Écran Fantastique, em Paris, na França.
White Zombie e José Mojica Marins.
Em meados da década de 1990, Mojica apresentou a saudosa Sessão Cine Trash, na TV Band. Talvez por este motivo, muitas pessoas o relacionem ao cinema Trash. Ledo engano. Mojica fez horror brasileiro surrealista, moderno, experimental e marginal. O cineasta se inspirava no horror clássico para realizar seus filmes, ao mesmo tempo em que fustigava-lhe os flancos com suas invenções alucinadas. O Despertar da Besta (1970), também conhecido como O Ritual dos Sádicos, talvez o seu filme mais criativo, é um exemplo pertinente da inventividade alucinada de Mojica.  Desde os créditos iniciais, em formato de quadrinhos e sobrepostos por gritos demoníacos, à parte final do filme, vemos uma miscelânea de formas, cortes irracionais e uma estética violenta e sombria em perfeita consonância com as transgressões estéticas dos melhores filmes da época. Os filmes de Mojica fazem os filmes da Hammer parecerem brincadeira de criança. No elenco de O Despertar da Besta, ninguém mais ninguém menos do que Ozualdo Candeias, Maurice Capovilla, Carlão Reichenbach e Jairo Ferreira, três ícones do Cinema Marginal brasileiro que embarcaram no estranho mundo de Zé do Caixão. Se Ozualdo Candeias era o “marginal entre os marginais”, conforme observou Jairo Ferreira, Zé do Caixão pode ser visto como o monstro mais autêntico entre todos os monstros da história do cinema. Recomendo incondicionalmente. 





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